A espera do Colorado Avalanche acabou! Finalmente após 21 anos o time volta a conquistar uma Stanley Cup, a terceira de sua existência. Os Avs passaram por um processo longo para chegar até aqui, foi tudo planejado, executado, com acertos e erros no caminho que levaram a esse momento.

De jogadores escolhidos em drafts, trocas e assinaturas, a manutenção de um projeto. O time que venceu a copa em 2022 começa antes, é um projeto longo que dependeu de vários fatores para dar certo. Até que tudo se alinhasse, acontecimentos prévios importaram nessa caminhada e moldaram a equipe campeã.

Construindo o time

A história dessa conquista começa logo após a temporada 2014-15, com o time falhando em chegar aos playoffs acabou sendo sorteado para escolher em décimo lugar no draft daquele ano. O Avalanche usou sua escolha de primeira rodada para selecionar Mikko Rantanen, que chegou sem muita mídia e acabou se tornando um grande jogador. No ano seguinte, Colorado selecionou Tyson Jost na primeira rodada, quem permaneceu no elenco até ser trocado por Nico Sturm em março de 2022.

Na temporada 2016-17 o Colorado Avalanche terminou com a pior campanha geral da liga, apesar de não ter sido sorteado na loteria para ser o primeiro a escolher no draft, Colorado conseguiu a quarta escolha. E com essa quarta escolha os Avs selecionaram o defensor Cale Makar, que permaneceu dois anos na University of Massachusetts Amherst, mais conhecida por Umass, e estreou na NHL durante a pós-temporada de 2019 deixando boas impressões. Na temporada seguinte, Makar venceria o Calder Memorial Trophy, dado ao melhor calouro da temporada. Makar virou uma força que a liga inteira reconhece e teme, sua habilidade defensiva é de alto nível, além disso ele tem muita velocidade e habilidade ofensiva, sendo uma arma perigosa no ataque também. Seu talento foi reconhecido na temporada 2021-22 ao vencer o James Norris Memorial Trophy, dado ao melhor defensor da temporada que demonstra habilidade em toda a extensão do gelo.

Apenas no draft de 2019 o Avalanche voltaria a escolher peças importantes na composição do elenco campeão em 2022. Na primeira rodada o time voltou a escolher na quarta posição geral, e novamente optou por um defensor, Bowen Byram, mais tarde na décima sexta escolha geral os Avs anunciaram o central Alex Newhook. Byram tem ajudado Colorado a manter a posse do disco e feito um bom trabalho defensivo, já Newhook tem feito parte da rotação de atacantes que Jared Bednar promove.

Mesmo com essas escolhas, alguns dos melhores jogadores já estavam no time antes disso. Nathan MacKinnon havia chegado através da primeira escolha geral do draft de 2013, ele estreou imediatamente na NHL ajudando o time a chegar aos playoffs na temporada 2013-14, mas voltou a se destacar em 2017-18 e desde então tem sido um dos melhores jogadores da liga. Por vezes é difícil lembrar que o MacKinnon tem apenas 26 anos de idade, ele já é tão presente e se destaca na liga há tanto tempo que podemos nem ter visto o seu melhor ainda.

A montagem do elenco passou por escolhas importantes como a de Mikko Rantanen (Foto: AP)

Outro jogador importante que está no time há muito tempo é Gabriel Landeskog, o ala sueco é o capitão da equipe e uma força ofensiva que aparece nas horas decisivas. Landeskog não costuma se destacar tanto na temporada regular, apesar de ter vencido o Calder Trophy em 2012, entretanto ele aparece nos jogos grandes e tem se destacado nos playoffs. Além de um grande líder, Landeskog é também o que chama de jogador de 16 jogos, em referência a quem cresce na pós-temporada.

Joe Sakic assumiu o cargo de general manager dos Avs em 2014, apesar de ter tomado algumas decisões contestáveis se mostrou muito bom no que faz. Sakic nunca fez um contrato muito arriscado, de fato apesar de ter montado um time campeão o Avalanche ainda tem mais de 25 milhões de dólares disponíveis para gastar na sua folha salarial. Sakic foi responsável por adquirir Artturi Lehkonen, André Burakovsky, Nazem Kadri, Darcy Kuemper e Josh Manson, além de outros jogadores, em trocas que podem ser consideradas boas para Colorado. Ele também foi o responsável por assinar com Valeri Nichushkin, que se destacou na campanha do título, e Darren Helm, peça que foi responsável por alguns momentos importantes na trajetória.

Com esse bom time em mãos, Jared Bednar tinha uma chance de dar a volta por cima após alguns anos de decepção. O técnico, sua comissão, e todo o elenco conseguiram se unir para fazer o que mais almejavam, porém, antes, o Colorado Avalanche precisou passar por várias provações.

Aprendendo com as falhas

Dizem que cair e aprender com as próprias falhas leva ao crescimento e amadurecimento, o que é verdade, mas não é a única. Cada pessoa, ou conjunto de pessoas, vai ter sua maneira de conseguir esse aprendizado, e existem várias maneiras diferentes de se chegar ao crescimento e amadurecimento. Não é preciso sofrer, cair para aprender com a queda, mas essa é a maneira mais comum, o método de tentativa e erro parece ser o mais básico para esse tipo de aprendizado. Antes que essa digressão filosófica se aprofunde exageradamente, foi dessa forma que essa geração do Colorado Avalanche aprendeu o caminho da glória, usando o básico tentativa e erro.

A sequência de idas aos playoffs do Avalanche começou na temporada 2017-18, a campanha como segundo wildcard da conferência oeste levou a um confronto contra o Nashville Predators na primeira rodada. Os Avs acabaram vencendo dois jogos, mas não estavam prontos ainda para vencerem os Predators, especialmente quando se pensa que o oponente havia feito a melhor campanha geral da liga. No ano seguinte Colorado voltaria a pós-temporada como segundo wildcard de sua conferência, dessa vez enfrentando o Calgary Flames na primeira rodada. O primeiro jogo terminou em vitória fácil dos Flames, na sequência o Avalanche se impôs vencendo quatro partidas seguidas e passou para a próxima fase. Na semifinal de conferência o adversário foi o San Jose Sharks, uma série de sete jogos terminou com a equipe de San Jose avançando e a sequência de derrotas nessa fase iniciando para Colorado.

O formato da temporada 2019-20 foi modificado por conta da pandemia, o Colorado Avalanche estava em segundo lugar geral da sua conferência quando a temporada foi interrompida. Com isso, os Avs foram para o chamado round robin entre os times já classificados para apenas determinar sua posição como cabeça de chave para os playoffs. O Avalanche manteve a segunda posição, vencendo dois jogos e perdendo um na prorrogação e enfrentou o Arizona Coyotes na abertura da pós-temporada. Colorado venceu os Coyotes em cinco jogos, passando com alguma facilidade e mostrando que era um dos favoritos da sua conferência. Na fase seguinte o adversário foi o Dallas Stars, que começaram a série melhor abrindo vantagem de 3-1, o Avalanche deu a volta por cima e vencendo as partidas número cinco e seis, no entanto foi derrotado no jogo 7, na prorrogação.

A derrota para o Dallas Stars em 2020 deixou marcas no Avalanche (Foto: Bruce Bennett/Getty Images)

Essa foi a primeira vez em algum tempo que Colorado chegou aos playoffs como um dos favoritos, a derrota na série para Dallas foi dolorosa e haviam lições para serem tiradas dela. Em alguns momentos os Avs estavam melhores no jogo, liderando o placar, apenas para deixar a vitória escapar pelas mãos permitindo uma reação do rival.

Chegamos a estranha e diferente temporada 2020-21 na nossa caminhada pela linha do tempo, o Colorado Avalanche foi um dos times que compuseram a divisão Oeste da liga. O Avalanche terminou empatado em pontos com o Vegas Golden Knights, mas levou a vantagem nas vitórias no tempo regular de jogo, com isso foi o primeiro colocado da divisão e vencedor do Presidents’ Trophy. Seu primeiro adversário na pós-temporada foi o St. Louis Blues, quem os Avs varreram com facilidade, levando a um confronto contra os Golden Knights na segunda fase. Colorado começou a série contra Vegas vencendo os dois jogos dentro de casa, depois disso o adversário passou por mudanças táticas e o Avalanche não conseguiu responder. Os Golden Knights venceram os próximos quatro jogos para avançar na corrida pela copa.

Era mais uma derrota dolorosa na conta do Avalanche e mais uma lição amarga: sem conseguir responder a adaptação que o rival numa série vai passar, você fica para trás. Não basta adaptar-se uma vez, precisa estar pronto para procurar respostas sempre.

Mais uma vez os Avs voltaram a ser um dos melhores times da liga em 2021-22, fez a segunda melhor campanha geral, melhor da conferência oeste e, obviamente, da divisão central. Após alguns anos de decepção, era hora da virada por cima acontecer.

A provação final

Entrando na pós-temporada, Colorado enfrentou o Nashville Predators na primeira rodada da disputa pela Stanley Cup. Foi uma série fácil para os Avs, encontrando dificuldades apenas no jogo 2 passou pelos Predators em quatro jogos mostrando logo de cara sua força e que era realmente um dos grandes favoritos. Contra o St. Louis Blues o Avalanche encontrou dificuldades, começou a série vencendo na prorrogação, mas tomou um revés no jogo 2 sendo derrotado por 4 a 1. Colorado teve certa facilidade nos dois jogos seguintes, em St. Louis, indo para casa no jogo 5 da série parecia que seria o encerramento e classificação para a próxima fase. A equipe de St. Louis, no entanto, não quis entregar fácil e num jogo de nove gols acabou vencendo na prorrogação e sobrevivendo por mais um jogo. O jogo número 6 foi disputado novamente, só que dessa vez o Colorado Avalanche conseguiu vencer e fechar a série com um gol de Darren Helm faltando 5,6 segundos para o final da partida.

A vitória na segunda fase finalmente aconteceu após três anos caindo nessa rodada, e após 20 anos o Avalanche retornava à final de conferência. Seu adversário foi o Edmonton Oilers, das estrelas Leon Draisaitl e Connor McDavid, e de jogadores questionáveis pelo seu histórico fora do gelo. Essa série em específico teve muitos gols, porém com Colorado quase sempre no controle, o time mais completo pesou completamente contra o time de ótimos atacantes, apenas no jogo 4 os Oilers realmente ameaçaram vencer os Avs. Ainda assim, na prorrogação, Artturi Lehkonen marcou o gol vencedor da partida e da série, o Avalanche venceu a conferência Oeste e iria para a grande final. Após 21 anos, desde o título da equipe na temporada 2000-01, os Avs não voltavam à final da Stanley Cup.

E o destino mandou para Colorado o então atual bicampeão da copa, o todo poderoso Tampa Bay Lightning. A primeira partida teve um bom momento do Avalanche fazendo três gols no primeiro período, um bom momento do Lightning empatando o jogo no segundo período e um terceiro período mais lento. Novamente não demorou muito para a decisão na prorrogação acontecer, Andre Burakovsky foi o herói do jogo novamente com menos de dois minutos de tempo extra.

A segunda partida foi bem diferente, teve domínio total e absoluto do Colorado Avalanche com três gols no primeiro período, dois no segundo e mais dois no terceiro. Darcy Kuemper precisou de apenas 16 defesas para sair com o shutout da partida. Naquele momento o Avalanche chegou ao que tem sido um sonho de muitos treinadores ao redor do mundo, dominando o disco, a zona ofensiva, marcando e tomando muitos pucks, fazendo a marcação e pressão na sua zona ofensiva e na zona neutra impedindo o adversário de conseguir uma transição perigosa. O domínio da partida levou o Avalanche a uma vitória avassaladora por 7 a 0 no placar e uma mostra do que o hóquei no gelo pode ser, um jogo de domínio pela habilidade e visão tática do seu treinador.

Essa vitória incrível dos Avs no jogo 2 da série fez parecer que estava tudo encaminhado, o título viria cedo ou tarde. O jogo 3, entretanto, mostrou que não se pode desacelerar em momento algum. Dessa vez foi o Tampa Bay quem se impôs, Colorado ficou longe de fazer um bom jogo, com isso o Lightning venceu por 6 a 2 devolvendo a goleada. Para balancear a disputa, a partida seguinte foi a mais equilibrada de toda a final, dois gols para cada time dentro dos 60 minutos regulamentares, disparos a gol em quantidades próximas pelas duas equipes, a prorrogação foi a coroação de um grande jogo. Na prorrogação o Lightning não conseguiu fazer qualquer coisa, não levou perigo real ao gol defendido por Darcy Kuemper, o Avalanche pressionou até conseguir o gol vencedor. A jogada de Nazem Kadri terminou de uma maneira estranha com o disco preso na rede, a arbitragem demorando a marcar, Steven Stamkos ainda tentou acobertar o disco preso, mas não deu certo para ele. Vale ressaltar que sim, o gol de Kadri no jogo 4 teve uma penalidade não marcada por muitos jogadores no gelo do Avalanche.

De qualquer maneira, o jogo 5 da série era em Denver, o Colorado Avalanche tinha a chance de vencer a Stanley Cup em casa. A torcida estava preparada para a festa, no entanto o time não fez bom jogo, o Lightning soube se aproveitar e cancelou essa festa, ao menos por hora, vencendo pelo placar de 3 a 2. Nisso, a série voltou para Tampa e o jogo 6 começou parecido com o anterior, o Lightning saiu na frente e jogava melhor, Colorado tinha dificuldades de criar chances perigosas, estava cometendo alguns erros até que no final do primeiro período passou a jogar melhor.

Na segunda etapa, os Avs voltaram melhor e empataram logo, gol de Nathan MacKinnon. O Avalanche continuou melhor no jogo, construindo jogadas e levando perigo, e foi assim que Artturi Lehkonen fez o gol da virada. O time que estava nervoso havia se recuperado, voltou a jogar com domínio e segurança, do outro lado o Lightning parecia derrotado, nervoso, fora de forma, não conseguia mais construir jogadas de perigo. No terceiro período o time demorou muito a levar perigo ao gol de Kuemper, o Avalanche dominou o disco e não teve pressa para finalizar, tentou construir jogadas com mais calma e gastar o tempo enquanto isso.

O tempo passou, o relógio apontou o fim e ele foi inevitável. Fim de jogo, fim de espera, fim de sequência, o Colorado Avalanche venceu a Stanley Cup após 21 anos. O Tampa Bay Lightning foi derrotado após três anos. O trabalho longo se pagava, o sofrimento chegava ao fim.

O defensor Cale Makar foi o melhor jogador do Colorado Avalanche nos playoffs
Cale Makar foi o Conn Smythe Trophy (Foto: NHLI/Getty Images)

Cale Makar, que terminou com 29 pontos e a terceira melhor pontuação da pós-temporada, foi o vencedor do Conn Smythe Tophy. O defensor de apenas 23 anos coroou sua temporada levando mais um prêmio muito merecido, se destacou dos seus companheiros e foi incontestavelmente o melhor jogador do time vencedor, ao menos.

A conclusão da jornada

Foi um processo longo, sofrido, merecido para o Colorado Avalanche. Começando por montar bons times, alguns méritos passam pelo general manager anterior, Greg Sherman, e em sua maior parte ficam com Joe Sakic. Também é preciso destacar o amadurecimento dos jogadores, que aprenderam com os erros e tiraram lições valiosas para não se desesperar e fazer o que era preciso no jogo final. Encarando o grande desafio que era finalizar o Lightning, eles precisaram se concentrar e achar seu jogo, e conseguiram isso confiando em si. O Avalanche como time aprendeu suas lições com as eliminações no passado e conseguiu se superar, a volta por cima e auto redenção são dois fatores que normalmente fazem parte das narrativas de times campeões.

É necessário destacar e louvar o trabalho feito por Jared Bednar. Desde sua chegada ele mostrou que tinha uma visão de jogo ofensiva, que tentava sempre dominar o disco e atacar, Bednar sempre acreditou que entrar na zona ofensiva com o puck dominado era a melhor arma para o ataque funcionar. O hóquei no gelo cada vez mais tem visto times que tem essa filosofia parecida com o Bednar, o próprio Lightning comandado por Jon Cooper não era de tentar muito o chamado dump and chase, o Avalanche raramente tentava esse recurso de jogar o disco na zona ofensiva e correr atrás, ou partir para a marcação forte no gelo adversário, o forecheck. Mesmo com as eliminações dolorosas nos anos seguintes, decepções, Bednar acreditou na sua filosofia de jogo, a organização Colorado Avalanche acreditou em Bednar e seu modo de ver o esporte. Ele se tornou o primeiro treinador a ser campeão da NHL, AHL e ECHL, todas as ligas dentro do sistema organizacional do Colorado Avalanche.

Jared Bednar passando instruções para o seu time (Foto: David Zalubowski/AP)

Grandes jogadores e um grande técnico, uma forma de jogo clara e muito atual, assim eu definiria o Colorado Avalanche campeão da Stanley Cup na temporada 2021-22. Esse sucesso mostra que tudo tem que começar com um bom projeto, precisa passar por confiança em quem está à frente desse projeto, e dar espaço para que seus jogadores cresçam. É um mérito que nem todos conseguem ter, muitos times tentam queimar etapas, alguns chegam de outras maneiras, no entanto normalmente são os projetos mais longos e bem pensados que conseguem o sucesso. Nessa era de teto salarial da NHL, ter maior cuidado no gerenciamento é sempre a melhor saída e os Avs fizeram isso muito bem.

O time precisa acertar com jogadores, e ainda tem espaço para isso. Essa pode ser a primeira Stanley Cup do Colorado Avalanche em uma era, as chances de conseguirem mais uma, ou mais do que uma, nos próximos anos parecem muito boas. Para isso o bom trabalho precisa continuar e apresentar bons resultados no gelo, e mesmo assim nada é garantido. Por hora, o Avalanche não precisa se preocupar com isso, aproveitar o título e comemorar é a prioridade nesse momento.

Autor

  • Escrevo sobre o esporte desde 2010, mas sou fanático há muito mais tempo. Entusiasta principalmente da NHL, grandes ligas da Europa e hóquei de seleções. Torcedor de New York Rangers, Krefeld Pinguine, Tappara, EV Zug e apreciador de outros tantos times e seleções. Sou conhecido como Fanático por Hóquei no Twitter.