Pouco mais de 32 anos atrás, St Louis Blues e Calgary Flames estavam em posições consideravelmente diferentes na NHL.

Os canadenses contavam com uma forte equipe, que já havia chegado as finais da Stanley Cup apenas alguns anos atrás e seguiam firmes no projeto de chegar novamente. Liderados por Joe Mullen, Hakan Loob e Mike Bullard, os Flames estavam mirando novamente os playoffs e a Stanley Cup, mas sabiam que faltava algo pra completar a fortíssima equipe: Um bom defensor. A equipe contava com o lendário Al MacInnis, mas era visível a falta que mais um nome de alto calibre fazia no setor defensivo dos Flames.

Já do lado da equipe de St Louis, Bernie Federko seguia sendo o grande líder, ao lado de Doug Gilmour e Rob Ramage, que partiriam com destino a Calgary de formas diferentes muito em breve. Os Blues oscilaram entre campanhas positivas e negativas nas temporadas anteriores e da única vez que passou do segundo round, foi derrotado pelo mesmo Flames, na temporada 1985-1986.

Com a temporada regular de 1987-1988 chegando ao final, os Flames se encaminhavam para vencer a divisão pela primeira vez em sua história e a Stanley Cup que havia escapado 2 anos antes, parecia mais próxima do que nunca. Com isso, a direção viu a de fazer um movimento para reforçar sua carente defesa e também adicionar um goleiro reserva.

Munidos com um poder de fogo gigantesco com Mullen, Loob e cia, os Flames possuíam os recursos necessários para fazer a troca acontecer. O escolhido, no entanto, foi um garoto de 23 anos, era uma grande promessa e vinha em uma ótima temporada. O filho do lendário Bobby Hull, lenda dos Blackhawks e dos Jets – é claro que só podemos estar falando de Bret Hull.

MAS POR QUE OS FLAMES TROCARAM BRET HULL?

Conforme mencionado, os Flames precisavam reforçar sua defesa e certamente não estavam dispostos a se desfazerem de Joe Mullen ou Hakan Loob para buscar um defensor all star no mercado. Com isso, ficava evidente que os Flames teriam que utilizar algum de seus prospects, uma vez que também não visava se desfazer de múltiplas escolhas ou uma grande quantidade de dinheiro que poderia colocar em risco o futuro da franquia.

Neste ponto da história, surge o nome de Hull. O jovem era um grande artilheiro, com um disparo a gol incrível, extremamente talentoso e uma grande promessa na liga, ao mesmo tempo que era tido como muito preguiçoso, lento e também tinha uma personalidade complicada, com uma certa atitude. O técnico dos Flames, Terry Crisp, não poupava críticas ao jogador, o deixando no banco em diversos jogos seguidos daquela temporada.

Em entrevista ao jornal “The Globe and Mail” em 8 de Março de 1988, o GM dos Flames, Cliff Fletcher disse o seguinte:

“A troca nos dá a chance de vencer a Stanley Cup. Nós sentimos que neste ponto da temporada e em 16 anos de liga, este é o mais próximo que estamos. Nós decidimos que o risco calculado era válido. Hull marcará muitos gols na NHL, mas nós avaliamos a troca do ponto de vista que nós temos o melhor ataque da liga e não temos usado o Brett em vários jogos neste ponto.”

 

MAS E OS BLUES? O QUE BUSCAVAM?

Após perder a estrela Joe Mullen para os Flames na temporada anterior, a equipe de St Louis parecia pensar muito além daquela temporada com essa troca, além é claro, de um belo alívio financeiro, uma vez que o defensor Rob Ramage era um all star e um dos grandes defensores da época. Os Blues não vinham bem e uma mudança de cenário parecia necessária. Hora de se desfazer de alguns medalhões e talvez buscar um jovem talento que lideraria a franquia num futuro próximo. Com isso, Fletcher conseguiu vender uma troca facilmente para o GM dos Blues, Ron Caron, que estava disposto a sacrificar uma das grandes peças do seu elenco por um jovem sniper que era visto com bons olhos pelos olheiros da equipe e certamente, vendido como diamante pelo GM dos Flames.

Sendo assim, no dia 7 de Março de 1988, foi anunciada a seguinte troca na NHL

Para St Louis:
– Brett Hull (RW)
– Steve Bozek (W)

Para Calgary:
– Rob Ramage (D)
– Rick Wamsley (G)

E DEPOIS DA TROCA?!

Para Calgary, a troca teve o efeito que a franquia buscava, uma maior consistência defensiva, para equilibrar com o poderoso ataque da equipe. Os Flames perderiam apenas 2 jogos dos últimos 13 da temporada 1987-1988 e chegaram embalados para os playoffs, onde passaram fácil pelos Kings, porém caíram diante do poderoso Oilers de Wayne Gretzky. Na temporada seguinte, enfim o grande objetivo: A Stanley Cup! Após uma grande temporada regular (54-17-9), os Flames chegaram aos playoffs mais uma vez embalados e após o susto de 7 partidas no primeiro round, a equipe avançou sem sustos até as finais, onde derrotariam os Canadiens para conquistar sua primeira Stanley Cup na história. Rob Ramage, adquirido na troca foi fundamental para a conquista dos Flames, provando que a aposta de Fletcher, a curto prazo, foi válida, já Rick Wamsley, pouco ajudou a equipe canadense. Após o título, Ramage foi embora para Toronto, onde se juntou aos Leafs, Hakan Loob voltou para a Suécia, se aposentando da NHL com apenas 28 anos de idade, Joe Mullen partiu para os Penguins na temporada 1990-1991 e os Flames que outrora tiveram o melhor ataque da NHL, se viram em uma posição complicada com suas maiores estrelas indo embora. A equipe só passaria do primeiro round dos playoffs 14 anos após o título. Um grande sniper cairia bem durante a década de 1990, ein?!

Para St Louis, a troca significou uma mudança na direção da franquia. De início vista como duvidosa e arriscada, especialmente pelo alto preço pago, a troca logo se mostrou positiva. Já em sua primeira temporada completa, Hull liderou a equipe em pontos, terminando com 41 gols e 84 pontos totais. Hull logo se tornaria o líder da equipe, ao lado de Bernie Federko, e sua evolução assombrava a cada temporada. Seu estrelismo refletia também nas arquibancadas, onde os Blues conseguiram aumentar de forma considerável a sua média de público nos jogos, já que todos queriam ver o grande artilheiro em ação. Em 1990-1991, Hull venceu o Hart Trophy e o Ted Lindsay (MVP), quando terminou a temporada com incríveis 131 pontos, sendo 86 GOLS. Brett Hull elevou a franquia de St Louis de patamar, ajudando a consolidar cada vez mais os Blues no mercado, tornou-se tudo o que era esperado e mais. Infelizmente para o torcedor dos Blues, em seus 11 anos na cidade, a estrela não conseguiu conduzir a equipe além do segundo round dos playoffs. Em sua passagem, Hull estabeleceu números incríveis, tendo seu nome em diversos rankings dos Blues. O jogador é o maior artilheiro da história da equipe com 527 gols e o segundo em pontos, atrás apenas de Bernie Federko. Ao fim de sua carreira, Hull estava entre os grandes nomes da história da liga e tido por muitos, como o “disparo mais próximo de Gretzky”. Hoje, Hull detém a 4ª maior marca de gols da história da liga, com 741.

Abaixo, a capa de um jornal local de St Louis no dia seguinte a troca:

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

E aí, no fim das contas, quem se deu melhor com essa troca?