Nas últimas semanas, conhecemos duas histórias sobre trocas gigantescas que aconteceram em décadas passadas e causaram um tremendo barulho na NHL e que mudaram o destino de algumas franquias. Mas vocês sabiam que a pouco menos de 4 anos atrás a liga foi sacudida a poucos dias do início da free agency, com duas grandes trocas e uma grande extensão contratual?

Muitos devem se lembrar dos eventos do dia 29 de Junho de 2016, mas que tal conhecer um pouco mais sobre a história por trás dos desdobramentos daquele dia, mais precisamente entre 15h34 e 15h57 (Eastern Time) da tarde, em um momento que ficou imortalizado por Elliot Friedman como “Os 23 minutos que sacudiram o mundo do hockey”.

15h34 – Taylor Hall por Adam Larsson

Já era sabido por todos ao redor da liga que o Edmonton Oilers realmente precisava de um defensor. Na temporada que acabara de se encerrar, a equipe amargou uma 7ª colocação na Divisão do Pacífico e penúltima geral na liga. As apostas nos jovens Oscar Klefbom e Griffin Reinhart não deram o retorno esperado até então, sendo Andrej Sekera o defensor mais produtivo da equipe na temporada em termos ofensivos, com 30 pontos. Darnell Nurse já fazia seu habitual trabalho de “operário”, mas ainda não era o suficiente.

Peter Chiarelli, GM dos Oilers e Ray Shero, dos Devils, haviam discutido outras possibilidades um pouco mais modestas, antes de chegarem ao famoso e controverso acordo, mas como sabemos, não ocorreu e Adam Larsson passou a fazer parte da conversa, mesmo que Ray Shero tenha deixado claro anteriormente que não estava nos planos da franquia mover Larsson, a não ser por uma oferta irrecusável, que eventualmente apareceu.

Do lado de Edmonton, Chiarelli sabia que uma peça de maior valor precisaria ser movida para conseguir o defensor que tanto desejava. E o GM dos Oilers também precisou se esquivar de diversas bombas (não que tenha adiantado muito), uma vez que diversos GMs ao redor da liga tentaram explorar o desespero dos Oilers com ofertas absurdas.

Mas a pergunta é: Por que Taylor Hall?
Bem, é uma pergunta bem válida e não tem exatamente uma única razão. O ataque dos Oilers era jovem, rápido e extremamente promissor. Connor McDavid havia acabado de chegar, assim como Leon Draisaitl. E de acordo com um artigo de Elliot Friedman, fontes indicaram que os Oilers buscavam dar mais espaço para que a influência de McDavid pudesse crescer nos vestiários, já visando o papel de líder que o mesmo teria mais adiante, uma vez que Taylor Hall tinha uma forte presença no vestiário da equipe. Esses fatores foram predominantes na decisão.

Após tentar uma troca tripla (Com Columbus e Calgary) que não funcionou, Chiarelli se decidiu e isso ficou evidente com a seleção de Jesse Puljujarvi como a 4ª escolha do geral do Draft. Com isso, as conversas se intensificaram no dia 27 e a ideia de 1×1 não agradava totalmente o GM dos Oilers. Ray Shero, no entanto, não é o tipo de GM que se consegue dobrar facilmente e usou o argumento do ótimo valor que o contrato de Adam Larsson possuía e ainda o considerável aumento no cap dos Devils após a troca. Larsson possuía um contrato com um cap hit de 4,1M e com mais 5 anos de duração, enquanto Hall possuía um contrato com um cap hit de 6M e com mais 4 anos de duração.

E então, as 15h34 ET (16h34 no Brasil), o jornalista Bob MacKenzie anunciou a conclusão da troca em um tweet que ficou famoso.

E o que esta troca significou para as franquias?

Para New Jersey, a troca não teve o efeito esperado de início. Hall foi o maior pontuador da equipe junto com Kyle Palmieri, com 53 pontos em 72 jogos, porém a equipe amargou a última colocação da Divisão Metropolitana e a 4ª pior campanha geral da NHL. Na temporada seguinte, o impacto esperado. Conduzindo uma linha com o Palmieri e o novato Nico Hischier, Taylor Hall terminou a temporada com 93 pontos, sendo eleito MVP da temporada e levando o Devils até os playoffs após 5 temporadas. Os Devils foram batidos pelo fortíssimo Lightning no primeiro round, encerrando rapidamente a passagem da equipe na pós-temporada. Na temporada seguinte, Hall vinha mais uma vez tendo uma grande temporada, até que uma séria lesão terminou sua temporada com apenas 37 jogos e os Devils amargaram mais uma vez a última colocação da Divisão. Durante a offseason após a temporada 2018-2019, alguns rumores apontavam que Hall estaria insatisfeito nos Devils, uma vez que a direção havia falhado em montar uma equipe competitiva e que o mesmo poderia ser trocado. Os rumores seguiram ganhando força ao início da temporada 2019-2020 e finalmente em 16 de Dezembro de 2019 Hall foi trocado para o Arizona Coyotes, encerrando assim sua passagem de três temporadas e meia em Jersey, onde em apenas uma delas foi o jogador que todos esperavam por lá.

Para Edmonton, a troca gerou uma tempestade de críticas ao GM Peter Chiarelli. A mídia e é claro, a torcida dos Oilers questionaram e continuam questionando até os dias de hoje a troca, que é julgada por muitos como uma das mais unilaterais dos últimos tempos. Adam Larsson trouxe um pouco de consistência para o setor defensivo, mas é unânime a opinião de que os Oilers poderiam ter pago muito menos pelo defensor ou poderiam ter explorado opções mais baratas por defensores semelhantes, uma vez que os problemas defensivos continuam muito evidentes em Edmonton. E a troca só se faz mais frustrante para a torcida dos Oilers, quando podemos ver que Connor McDavid, mesmo tendo se tornado provavelmente o melhor jogador da liga nos dias de hoje, poderia ter uma maior ajuda na primeira linha dos Oilers e Taylor Hall cairia muito bem nessas horas, o que possibilitaria uma melhor distribuição do poder de fogo do ataque dos canadenses. E para piorar tudo, Jesse Puljujarvi não deu certo na NHL e hoje está na liga finlandesa. Definitivamente, tudo errado!

15h54 – P.K Subban por Shea Weber

O mundo do hockey tentava processar a troca de Taylor Hall por Adam Larsson, quando outra troca foi anunciada e essa era ainda maior, envolvendo dois All Stars, sendo um deles vencedor do Norris Trophy (Melhor defensor).

O jornalista Nick Kypreos, que foi o primeiro a noticiar a troca no Twitter, afirmou que rumores sobre uma possível troca envolvendo Subban se intensificaram após uma derrota dos Canadiens, onde o defensor acabou falhando, e o adversário anotou o gol da vitória a poucos minutos do fim do jogo. Algo estava errado em Montreal e todos tentavam entender o que era, uma vez que a equipe que começara a temporada 2015-2016 de forma arrasadora, com 10 vitórias seguidas,  vinha caindo de forma surpreendente ao longo da temporada e nem sequer se classificou para os Playoffs, o que acendeu de vez o alerta vermelho na franquia.

Marc Bergevin, GM de Montreal, tentou de todas as formas abafar possíveis rumores para uma troca envolvendo Subban, que era ídolo da torcida e uma das figuras mais queridas de Montreal.  Bergevin esteve com conversas com os Canucks, porém mesmo adquirindo uma boa escolha no Draft daquele ano, o alvo dos Habs, Pierre-Luc Dubois, não chegaria até a equipe e isso esfriou de vez as conversas entre as franquias. E então durante o Draft, Nashville chegou na história…

Neste ponto, a negociação ia no sentido oposto do que Montreal esperava, uma vez que Bergevin deseja adicionar talentos mais jovens a equipe e com Shea Weber, os Habs estariam adicionando mais experiência, uma vez que o defensor já tinha 30 anos na época e Subban 27. A grande questão era: Por que Subban? Uma vez que os Habs desmoronaram como um todo, por que o defensor foi o único movido? Bem, podemos citar ao menos duas razões:

  • Subban havia assinado sua massiva extensão contratual com um cap hit de 9 milhões de dólares, em uma equipe que logo adianta teria que pagar também Carey Price, considerado a época o único intocável da franquia. No contrato de Subban, havia uma cláusula de não movimento que entraria em vigor no dia 1º de Julho de 2016 e partir disso, para a franquia canadense movê-lo, precisariam do consentimento do defensor. Para completar, rumores a época apontavam algumas rusgas entre Subban e o treinador dos Habs.
  • O estilo de jogo de Subban estava começando a se desprender do estilo do treinador Michel Therrien. Em entrevista, Carey Price comentou a respeito

“PK é um defensor mais ofensivo e que corre riscos. Ele teve sucesso dessa forma e não quer mudar seu jeito de jogar e eu respeito isso, respeito sua maneira de jogar, seu entusiasmo e capacidade de fazer torcedores se levantarem. Mas a maneira que somos treinados no nosso time, a maneira que o time é estruturado, não é isso que procuramos”.

Mas por que os Predators trocaram seu melhor defensor e um dos maiores jogadores da história de sua franquia?

Bem, nunca obtivemos uma resposta concreta a respeito disso, mas é correto presumir que os Preds não confiaram que Weber conseguiria manter seu nível por muito tempo e o jogador, que a época da troca tinha 30 anos, ainda teria mais 10 anos de contrato pela frente e muito dinheiro a receber. Com isso, quando a oportunidade para adquirir um dos melhores defensores da liga na época, além de uma figura única, que caía nas graças do público onde quer que estivesse, David Poile não hesitou e puxou o gatilho em uma das negociações mais ousadas da história da franquia.

E o que esta troca significou para as franquias?

Para Nashville, o impacto da chegada de Subban foi imediato, dentro e fora do gelo. A personalidade forte, o espírito competidor e claro, toda a habilidade do defensor encaixaram perfeitamente no time de Nashville. Apesar de uma produção ofensiva modesta, Subban atuou com maestria na unidade de Penalty Kill, além de se tornar um dos líderes do vestiário. Além disso, tornou-se também uma grande figura pública na cidade, como já eram em Montreal, envolvendo-se em causas nobres pela comunidade local. Já em sua primeira temporada, Subban contribuiu para levar os Predators além do segundo round dos playoffs pela primeira vez em sua história, e mais adiante, para as finais da Stanley Cup. Os Predators foram batidos pelos Penguins em 6 partidas, mas a campanha foi marcada pela grande energia da equipe e especialmente sua torcida. Na temporada seguinte, Subban atuou em todos os 82 jogos de Nashville, aumentando sua produção ofensiva para 59 pontos e formando uma das melhores defesas da liga junto com Roman Josi, Ryan Ellis e Mattias Ekholm. Os Predators terminariam a temporada regular com a melhor campanha, conquistando o President’s Trophy, mas cairiam de forma cruel para os Jets no segundo round, encerrando uma brilhante temporada de forma abrupta. Em sua terceira temporada na equipe, Subban não teve o mesmo rendimento, assim como os Preds, e após uma temporada muito instável, a equipe acabou caindo no primeiro round e mais uma vez os rumores de troca apontaram para o defensor. Finalmente, em 22 de Junho de 2019, pouco menos de 3 anos de sua troca para Nashville, o defensor foi enviado para o New Jersey Devils, encerrando sua passagem pela cidade da música.

Para Montreal, a troca a foi muito criticada a princípio, especialmente pela torcida, uma vez que Subban era o jogador mais popular da equipe e muito viam como injusto a “culpa” que acabou recaindo sobre o defensor. Em sua primeira temporada com os Habs, Weber atuou em 78 partidas e anotou 42 pontos, um desempenho semelhante ao de Subban, porém os Habs caíram ainda no primeiro round os playoffs e o fato dos Predators chegarem as finais daquele ano não ajudou nadinha Marc Bergevin a sustentar seus argumentos para a troca. Na temporada 17-18, uma lesão no pé terminou a temporada do jogador de maneira precoce, custando 56 jogos restantes da temporada, com o jogador retornando apenas em dezembro de 2018. O retorno ocorreu bem e Weber, que havia sido apontado o capitão da franquia atuou em 58 partidas da temporada 18-19, anotando 33 pontos e resgatando a famosa boa forma. Na atual temporada, paralisada devido a pandemia de COVID-19, Weber havia atuado em 65 partidas das 71 disputadas e mantendo a boa forma desde seu retorno. Weber é um jogador que tem muito a transmitir a jovem geração de jogadores dos Canadiens que estão chegando e devido a sua idade já mais avançada não sabemos se estará presente para ver tal geração em atividade. No fim  da história, os Canadiens não conseguiram aproveitar o que desejavam de Weber nas temporadas passadas, devido também ao fraco desempenho da equipe  que só foi aos playoffs em uma oportunidade nos últimos 4 anos.

*Extra – 15h57 – Stamkos fica em Tampa

Entre 2015 e 2016 a torcida do Lightning não teve um minuto de paz. Isso porque seu capitão e melhor jogador estava no último ano de seu contrato e tudo apontava para uma saída via free agency com destino a Toronto. Enquanto isso, Stamkos, seu agente Don Meehan e Steve Yzerman (GM de Tampa) trabalhavam um acordo e a mídia reportava todo tipo de informação, colocando Stamkos em pelo menos 4 times diferentes.

De acordo com o jogador, em algum momento, ele achou que não ficaria em Tampa, porém no fim, após muita especulação, a renovação foi anunciada e Stamkos ficaria em Tampa por mais 8 anos, encerrando assim uma tarde insana na NHL!