Imaginem que após conquistar o 3º título em 6 anos, o Chicago Blackhawks decidisse trocar Patrick Kane, que na época estava atingindo seu auge e tinha apenas 26 anos. Ou então, o Pittsburgh Penguins decidisse trocar Sidney Crosby após a conquista do back-to-back ao fim de 2017, com 29 anos de idade. Um absurdo total, não é?!

Em 1988 uma equipe foi além, muito além disso, trocando o vencedor de 8 Hart Trophies seguidos (MVP), que conduziu sua equipe a 4 títulos da Stanley Cup e que descobriu que seria trocado apenas algumas horas após conquistar seu 4º título. Sim, o maior jogador de todos os tempos foi trocado, ou melhor “vendido” praticamente antes do fim da temporada.

Mas afinal, por que os Oilers trocaram Gretzky?

A resposta, diferente da história, é bem simples: Dinheiro!

Naquela altura, Gretzky não era apenas a cara da franquia, mas também da liga, do esporte e seu valor só aumentava. Também precisamos levar em consideração a época, uma vez que grande parte das franquias não possuíam condições de pagar salários astronômicos para apenas um jogador, uma vez que isto dificultaria manter uma equipe equilibrada. Os Oilers daquela época ainda contavam com Mark Messier, Glenn Anderson e Jari Kurri, entre outros.

Gretzky, que em 1979 havia assinado um contrato de 21 ANOS de duração com os Oilers, com um valor médio de salário de 200 mil dólares por temporada, não demorou muito a perceber seu verdadeiro valor, e mesmo com a cláusula de renegociação sendo apenas projetada para 1989, conseguiu antecipá-la e renegociar seu salário já a partir da temporada 1985-1986 e também reduzir a duração inicial do contrato para 10 anos e não mais 21, o que significava que seu contrato terminaria em 1989, com Gretzky se tornando agente livre irrestrito (UFA) com apenas 29 anos de idade. Este fator seria determinante para a troca!

Com o contrato de Gretzky se encaminhando para o último ano, o então dono do Edmonton Oilers Peter “Puck” Pocklington percebeu que teria problemas para segurar a superestrela, uma vez que já se especulava que grandes franquias como Detroit, Toronto, Montreal e New York Rangers preparavam ofertas na casa dos 4/5 milhões de dólares por temporada, e Edmonton não teria a menor condição de competir com ofertas como esta. Além disso, Pocklington enfrentava problemas financeiros em negócios que possuía em diferentes ramos, o que foi mais um fator determinante para que a troca ocorresse.

Ainda nos primeiros meses da temporada 1987-1988, o pai de Wayne, Walter Gretzky descobriu através de um empresário que o camisa 99 estava sendo “vendido” por Pocklington. Walter decidiu não contar a Wayne durante a temporada, visando não atrapalhar o restante da temporada de seu filho, decisão esta que se mostrou acertada, uma vez que Gretzky liderou os Oilers ao segundo título consecutivo, tendo ainda conquistado o Conn Smythe Trophy (MVP do playoffs) naquele ano. Logo após o jogo que deu o título aos Oilers, Walter então informou Wayne dos planos dos Oilers e o jogador se mostrou contrariado, uma vez que não planejava e não tinha a menor intenção de deixar a cidade, porém Pocklington já estava decidido e após receber uma ligação do donos dos Kings, Bruce McNall, pedindo permissão para organizar uma reunião e discutir um acordo, Gretzky finalmente aceitou, com a condição que Marty McSorley e Mike Krushlnyski também fossem adquiridos na negociação – o que McNall e Pocklington aceitaram sem problemas.

Então, em 9 de Agosto de 1988, faltando pouco menos de 1 ano para o fim de seu contrato com os Oilers, Wayne Gretzky foi trocado para o Los Angeles Kings em uma troca envolvendo nada menos que 9 peças e causou um verdadeiro alvoroço não somente na NHL, uma vez que o líder do governo no parlamento à época pediu que o governo canadense bloqueasse a troca.

Abaixo, os detalhes da troca:

Para Los Angeles:
– Wayne Gretzky
– Mike Krushelnyski
– Marty McSorley

Para Edmonton:
– Jimmy Carson
– Martin Gelinas
– 3 escolhas de 1ª rodada no Draft (1989, 1991, 1993)
– 15 milhões de dólares

Para Los Angeles, a troca significou uma mudança de patamar sem precedentes e não apenas para a franquia, mas a região como um todo. O interesse no hockey aumentou de forma considerável, partidas passaram a ser transmitidas em horário nobre na TV, a liga conseguiu se expandir nos anos seguintes, inclusive com mais duas franquias na região da Califórnia. No início da década de 90, o estado possuía pouco mais de 4 mil praticantes de hockey, ao fim da passagem de Gretzky em 1996, este número havia subido para mais de 15 mil. No gelo, Gretzky seguiu sendo o mesmo, ainda que não tenha conquistado um título de Stanley Cup, jogou em altíssimo nível durante toda sua passagem pela cidade de LA, e conduziu os Kings até as finais em 1993, perdendo para o Montreal Canadiens. Gretzky encerraria sua passagem pelos Kings após 8 temporadas, com os seguintes números:
– 539 jogos
– 246 gols
– 672 assistências

Para Edmonton, bem, é seguro dizer que entre TODAS as peças envolvidas na troca, os 15 milhões de dólares foram o melhor que Edmonton conseguiu aproveitar (ou seu dono, né). Dentre os jogadores recebidos, apenas Jimmy Carson causou algum impacto no gelo, coisa que já vinha fazendo nos Kings desde os 18 anos de idade. Porém, Carson ficou menos de 2 temporadas na equipe e requisitou uma troca para o Detroit Red Wings, seu time do coração, a qual os Oilers atenderam. Martin Gélinas atuou por 5 temporadas na equipe, sem causar grande impacto no gelo, com sua maior marca sendo 40 pontos em uma temporada. A escolha de 1989 foi trocada para o New Jersey Devils pelo defensor Corey Foster, que não atuou EM UM JOGO SEQUER pela equipe dos Oilers. A escolha de 1991 foi utilizada para selecionar o winger Martin Rucinsky, que atuou em apenas 2 PARTIDAS pelos Oilers na NHL, sendo movido para o Quebec Nordiques logo em seguida e alcançando algum sucesso atuando pelo Montreal Canadiens a partir da temporada 1995. Com a escolha de 1993, os Oilers selecionaram o defensor Nick Stajduhar, que também atuou pelos Oilers em apenas 2 partidas na NHL, tendo uma carreira melhor nas ligas menores como AHL, ECHL e CHL.

Após o desfecho total, é mais do que certo que Edmonton saiu perdendo e feio nesta troca. Mesmo assim, anos após a troca, o antigo dono da franquia publicou um livro chamado “I’d Trade Him Again” (Eu o trocaria de novo), dando detalhes da negociação e reforçando, como diz o título, que faria a negociação novamente. Corajoso o rapaz, não?!