A NHL possui muitas tradições e superstições próprias, entretanto algumas ficam restritas aos playoffs, quando cada jogo importa, e é preciso se apegar ao que podemos para superar o nervosismo. Um dos exemplos é a tradição da barba nos playoffs da NHL ou a de não tocar o troféu de campeão da Conferência. 

Jogadores também são supersticiosos por natureza, e jogadores de hóquei não fogem à regra. Muitos deles possuem rituais pré-jogo e acreditam fielmente que suas habilidades são influenciadas pelo cumprimento desses ritos. 

Vencer a Conferência não é o objetivo final das equipes. Por isso, muitas equipes optam por não comemorar mais do que a vitória em outras séries de playoffs. A Stanley Cup é o objetivo final, e é ela que deve ser mais comemorada. 

Reprodução: Dave Sandford/NHLI via Getty Images

Além disso, há um outro elemento na escolha de não tocar o troféu de campeão de conferência: o azar. Segundo a tradição, acredita-se que o time que tocar ou levantar o troféu de vencedor da Conferência não ganhará a Stanley Cup. É uma tradição contraditória, há aqueles que a seguem mas muitas franquias não o fazem. Por exemplo, o Pittsburgh Penguins de 2009 que levantou o troféu, os jogadores inclusive patinam com o Príncipe de Gales erguido sobre as cabeças e, mesmo assim, conseguiram sair campeões da Stanley Cup.     

Uma breve história dos troféus

O troféu dado à Conferência Oeste chama-se Clarence S. Campbell  em homenagem ao homônimo que foi comissário da  NHL entre os anos de 1946 a 1977. Durante as temporadas de 1967-1968 e 1973-1974, o campeão da temporada regular da Divisão Oeste ganhou o troféu. O campeão da conferência oeste passou a receber o troféu na temporada de 1993-1994 depois de muitas mudanças sobre quem o receberia. 

Já o troféu da Conferência Leste recebe o nome de Prince of Wales (ou Príncipe de Gales) em homenagem ao título real uma vez que o próprio Príncipe de Gales, futuro Rei Eduardo VIII, doou o troféu para a NHL em 1924, entre os anos de 1982 e 1993 o que hoje chamamos como Conferência Leste era conhecida como Wales Conference (Conferência de gales).

Entre as temporadas de 1927-28 a 1937-38, o troféu foi entregue para a equipe que ficou em primeiro lugar na Divisão Americana (as franquias da Divisão Canadense receberam o Troféu O’Brien durante esses anos). O vencedor da conferência leste passou a receber o troféu Príncipe de Gales na temporada de 1993-1994, no mesmo ano que o vencedor do oeste recebeu o Clarence Campbell. Entretanto, o maior vencedor do Prince of Wales, o Montreal Canadiens, ganhou o Clarence Campbell por conta da redefinição temporária das conferências causada pela pandemia. 

O início da superstição

Não tocar no troféu começou a acontecer em 1997 após a série entre New York Rangers e o Philadelphia Flyers, depois de cinco jogos o time da Pensilvânia saiu vitorioso. O capitão da equipe, Eric Lindros, resolveu não tocar no troféu Prince Wales. Entretanto, o Detroit Red Wings de Steve Yzerman, que havia tocado no Clarence Campbell Bowl, não se importou com a superstição e varreu o time de Eric. Não era um bom presságio para o início da tradição.

Em 1999 Mike Peca, capitão do Buffalo Sabres, não colocou as mãos no Príncipe de Gales enquanto o Dallas Stars optou por tocar no Clarence Campbell Bowl. Com um gol de Jere Lehtienen para o Dallas Stars a série foi resolvida na terceira prorrogação do jogo seis.

Era esperado que esse costume fosse perdendo força e deixando de acontecer, só que tudo mudou em 2004 quando o Calgary Flames ganhou a série contra San Jose Sharks e tocou no troféu de campeão da Conferência Oeste. Em paralelo, o capitão do Tampa Bay Lightning, Dave Andreychuk, após vencer o Philadelphia Flyers não tocou no Príncipe de Gales. O Lightning, então, venceu pela primeira vez em sua história a Stanley Cup daquele ano no jogo sete.

Montreal Canediens não tocou no troféu de campeão da conferência oeste
Reprodução: Ryan Remiorz/The Canadian Press via AP

Desse ano em diante, a tradição se consolidou e passou a fazer parte do imaginário dos jogadores e das torcidas. Ganhou vários adeptos apesar de não ser tão popular quanto a superstição de não tocar na Stanley Cup até ganhar a taça.

A superstição atualmente

Desde 2005 na Conferência Oeste só uma franquia ignorou a tradição e tocou no troféu Clarence Campbell, o Vegas Golden Knights. Em sua primeira temporada, o time de Nevada conseguiu ganhar a Conferência e para comemorar seus jogadores resolveram patinar com o primeiro troféu da franquia pelo o gelo. A equipe perdeu a Stanley Cup daquele ano para o Washington Capitals, que também havia tocado no troféu Príncipe de Gales. 

Já os times do leste parecem mais dispostos a tocarem no troféu. Em anos em que o time vencedor do Príncipe Gales tocou no troféu e o vencedor do Clarence S. Campbell não, os times do leste venceram mais do que os do oeste. Aconteceu em 1997 e 1998 com o time de Detroit, assim como o Dallas de 1999 e o Colorado Avalanche de 2002. Apesar disso, o time do Dallas Stars de 2000 tocou no troféu e não conseguiu ganhar a Stanley Cup.

Por ser uma tradição inconstante, nem todas as equipes seguem essa superstição. Por isso, há a possibilidade de os dois times que disputam a Stanley Cup tocarem no troféu, isso aconteceu em 1998, 2000 a 2002. Dessas quatro vezes só em uma o time do Leste ganhou, em 2000 com o New Jersey Devils.

Mesmo assim, a tradição foi crescendo e tem os seus fiéis adeptos e isso fez com que em alguns anos ambos os finalistas da Stanley Cup optem por não tocar nos troféus. Em 2006, 2008 e 2011 a 2015 nenhum dos times tocaram nem no Prince of Wales ou Clarence S. Campbell e, nesse cenário, os times do leste só venceram duas vezes: Carolina Hurricanes em 2006 e o Boston Bruins de 2011, que foi o último time a vencer a Stanley Cup após não tocar no troféu de campeão da Conferência.

Seguindo os números, há mais vantagens em tocar o troféu, a não ser que seu time seja treinado pelo Petter Laviolette. O Philadelphia Flyers de 2010 perdeu a série final logo depois de tocar no troféu enquanto era treinado por ele, já o Carolina Hurricanes ganhou a taça após não tocar no Príncipe de Gales.

O Tampa Bay Lightning de 2015 não tocou na taça e acabou não ganhando a Stanley Cup. Entretanto, o último time a ganhar o título quando por trocar o troféu, em 2020, enquanto o Dallas Stars não ousou tocar no Clarence Campbell. Na última temporada, o time também ergueu a taça e se consagrou campeão, apesar do Montreal Canadiens não ter tocado na taça. 

No entanto, tradição é tradição e os Deuses do Hóquei são muito imprevisíveis. Ao saírem da fileira do lado de seus companheiros até chegar no representante da liga para receber o troféu, o capitão deve pensar se irá tocar ou não e independente da escolha essa ação será comentada nas redes sociais pelos próximos dias.