No sábado, 17 de dezembro, a NHL ouviu uma das histórias mais humanas da temporada até aqui, algo que não deveria passar despercebido. Após nove jogos de ausência, Alex Pietrangelo voltou ao elenco do Vegas Golden Knights e falou sobre o motivo de seu afastamento: sua filha Evelyn, de 4 anos de idade, contraiu uma doença grave. A resposta a um tratamento intensivo e evolução surpreendente de seu quadro nos últimos dias liberaram o paizão para retornar ao time. Aliviado, o defensor narrou seu drama e superação com uma leveza que contagiou todos à sua volta.

Pietrangelo, 32 anos de idade, pode dizer que tem uma carreira memorável na NHL. Afinal, foi o capitão do título do St. Louis Blues em 2019, dando fim a uma espera de mais de cinco décadas. Quanto ao seu legado no esporte e na Liga, apenas o tempo dirá.

Em sua vida particular, este canadense da bucólica comunidade rural de King, em Ontario, é casado com Jayne, a quem conheceu em St. Louis durante sua longa passagem pelo Blues. O casal tem quatro crianças: os trigêmeos Oliver, Theodore e Evelyn, nascidos em 2018, e Julia Grace, nascida em 2020.

Dramas familiares não são uma eventualidade na vida de Alex Pietrangelo, que perdeu o pai ainda criança, vítima de câncer. Sua esposa Jayne sofreu um aborto espontâneo antes da vinda dos trigêmeos, e sua sobrinha de cinco anos de idade, Ellie, enfrentou um severo tratamento de nefroblastoma, um tumor renal, luta devidamente vencida.

Apesar desse histórico, a vida dos Pietrangelos vinha bem até que, no último Dia de Ação de Graças, Evelyn apresentou sintomas de gripe. Até então, nada anormal para uma criança. Mas o que aparentava ser um simples resfriado avançou para uma encefalite e causou uma infecção cerebral que comprometeu todas as funções motoras da menina. De uma hora para outra, ela perdeu a capacidade de andar ou falar. “Nos primeiros dias, ela não conseguia nem abrir os olhos”, desabafou o jogador.

Pietrangelo foi autorizado pelo time a deixar o elenco, sendo, a partir de então, listado como IR. “Família em primeiro lugar”, justificou o técnico Bruce Cassidy. Em nota, a organização comunicou o afastamento do jogador “devido a um grave problema familiar”, sem dar maiores detalhes, e pediu respeito à privacidade do atleta.

Segundo Pietrangelo, a família optou por um tratamento intensivo e a resposta foi rápida

, algo que não estava previsto no diagnóstico inicial. O primeiro sinal de evolução foi a cura da infecção cerebral. Como ainda precisava lidar com sequelas, a pequena Evelyn seguiu hospitalizada até receber alta para dar continuidade aos procedimentos em casa.

Embora estivesse tratando de um assunto altamente delicado, algo que chegou a ser aterrador a princípio — sobretudo para a família —

 Pietrangelo era, neste sábado (17), um pai que já lidava com a filha em franca recuperação. “Um milagre”, como o próprio definiu. Seu tom, portanto, foi sempre ameno, esperançoso.

E foi nesse momento que ele chegou ao trecho mais feliz da entrevista, a iniciativa e determinação da própria Evelyn em lutar contra as sequelas. “Ela veio para casa há três dias. Anteontem ela acordou e disse ‘Dane-se, vou andar.’ Achamos que ainda levaria algum tempo, mas, de repente, ontem ela começou a andar e passou o dia todo andando. Nem eu andei tanto nas últimas semanas, porque ficava o tempo todo sentado no hospital!”, brincou. “Ontem ela já estava tentando andar de velocípede pela casa, não era algo que estávamos esperando.”

De acordo com o próprio atleta, a filha ainda precisa de longas sessões de fisioterapia, mas sua melhora e surpreendentes sinais de evolução deram a Pietrangelo o conforto que ele precisava para voltar ao trabalho.

O defensor treinou no sábado pela manhã e, à noite, estava escalado para enfrentar o New York Islanders em casa, depois de nove jogos de ausência. Seu desempenho? Não foi dos melhores. Embora tenha dado uma assistência, Pietrangelo estava no gelo nos cinco gols sofridos pelo Golden Knights, que acabou perdendo por 5 a 2.

Mas no sábado (17), o placar era o de menos. A NHL tem 32 times, dos quais apenas um pode ser campeão a cada ano. Isso significa que, ao longo da temporada, há centenas de histórias para serem contadas que são muito maiores que títulos, gols e assistências. Não é por acaso que a própria Liga premia valores como superação pessoal e envolvimento com a comunidade.

Hóquei também acontece além do rinque e, nas últimas semanas, foi fora dele que Alex Pietrangelo demonstrou a força e coragem que nos acostumamos a ver no jogo.

 

Texto por Thiago Leal – @thiagocaleal

Fotos: NHL.com