O hóquei é um esporte de extremo contato físico, afinal de contas temos jogadores “voando” por uma superfície extremamente lisa utilizando “navalhas” para rasgar o gelo. Consequentemente, isso faz com que os jogadores atinjam grandes velocidades tornando o contato físico entre eles algo intrínseco. Esse contato é denominado de hit que é uma palavra em inglês para “choque corporal”.
Hit é quando um jogador utiliza o ombro ou o quadril, atingindo a área do peito, ombro ou a área do quadril para impedir o progresso do jogador adversário que está na posse do puck. Muito mais que uma ação dentro do gelo, o hit é uma estatística que nos diz como fisicamente um indivíduo ou equipe joga contra seus oponentes.
Antes de nos aprofundarmos nos números do Los Angeles Kings, vamos analisar a Liga Nacional de Hóquei como um todo. Os dados utilizados para as análises abrangem as temporadas de 2009-2010 até 2019-2020.
Em termos de números absolutos, temos pouca variância entre as temporadas. Em 2014-2015 tivemos a temporada com o maior número de hits e, em 2019-2020 a temporada com o menor número. A exceção fica por conta da temporada de 2012-2013, destacada no gráfico, ano em que ocorreu o lockout, o que levou a liga nacional de hóquei a ter um calendário mais curto de jogos, impactando diretamente nos números como podemos ver.
Agora vamos ver como estavam as médias de hits por jogo em cada temporada:
Esse gráfico é interessante pois mostra que a média de hits por jogo vinha aumentando a cada nova temporada. Contudo, apesar de um número menor de jogos a média de hits na temporada 2012-2013 foi bem expressiva se comparada aos anos interiores. Não podemos inferir, com certeza, que a média se manteria e em valores absolutos teríamos um total de hits maior que nas temporadas anteriores. Porém, tudo indica que a liga estava caminhando para isso. Outro ponto interessante é que após a temporada de 2014-2015, temos uma queda vertiginosa na média de hits chegando em sua menor marca na temporada de 2017-2018. Uma suposição para essa queda na média seria apostar no envelhecimento/restruturação dos times como um todo.
Quem bate mais nos adversários?
Bom, já vimos como a liga se comportou nesse período, mas são os verdadeiros responsáveis para tal. Agora vamos ver quais são os times na NHL que mais gostam de “bater” nos adversários.
O gráfico apresenta os cinco times na NHL que acumularam mais hits nessas 11 temporadas que estão sendo analisadas. O time dos Los Angeles Kings é, sem dúvidas. aquele que mais aprecia o estilo do jogo físico, acumulando mais de 26 mil hits nos últimos 11 anos. Na cola dos Kings, temos Pittsburgh Penguins que não está levando desaforo para casa.
Agora, vamos voltar nossa atenção ao time do Los Angeles Kings e analisar seu jogo do ponto de vista dos hits é como eles o utilizaram. Vamos focar em quatro pontos:
- Quais os locais em que acontecem os hits dentro do gelo;
- Qual jogador mais contribuiu para esse estilo de jogo físico;
- A distribuição dos hits por temporadas e a média de hits por jogo;
- Esse é um estilo da própria franquia ou foi imposto por um técnico?
Quais os locais em que acontecem os hits do Los Angeles Kings dentro do gelo?
Vamos apresentar o playground dos Kings:
Olhando para esse gráfico, não recomendo ficar perto das bordas quando for brincar contra eles.
Qual jogador mais contribuiu para esse estilo de jogo físico?
O grande nome dos Kings, nesse quesito, é Dustin Brown, conhecido na liga pelo seu estilo de jogo físico. Podemos ver que seus números não mentem. O jogador foi selecionado pelos Kings como a 13ª escolha geral do draft da NHL de 2003 e continua com o time até hoje, contabilizando 16 temporadas. Brown, assim como Drew Doughty, Anze Kopitar, Jonathan Quick e Justin William (que não está mais na equipe) fazem parte do núcleo do time, hoje bem envelhecido, mas que foram os grandes responsáveis pelas conquistas da Stanley Cup em 2012 e 2014.
A distribuição dos hits por temporadas e a média de hits por jogo
Nos últimos 11 anos, o time do Los Angeles Kings foi campeão da NHL em duas oportunidades: na temporada de 2011-2012 e em 2013-2014, quando liderou a liga em números absolutos de hits. Após sua conquista em 2013-2014, o time ainda liderou a liga em outras duas oportunidades em 2015-2016, quando chegou a pós-temporada vencendo apenas um jogo, e em 2016-2017 sem grandes resultados.
Média de hits por jogo do Los Angeles Kings
Depois da conquista da segunda Stanley Cup, o jogo físico do time de Los Angeles caiu muito de produção assim como a sua participação na pós-temporada. Nos últimos seis anos, participou em apenas duas ocasiões: em 2015-2016 vencendo um jogo e 2017-2018 onde acabou sendo varrido.
É difícil apontar um único fator para essa queda na “fisicalidade” do time, mas muito se deve ao envelhecimento da equipe, que na temporada de 2014-2015, já tinha uma média de idade elevada próxima dos 27 anos. Isso fez com que o time entrasse no processo de rebuild buscando se renovar para voltar a competir com times mais jovens e mais rápidos.
Esse é um estilo do Los Angeles Kings ou foi imposto por um técnico?
Aqui vale um adendo: o time de Los Angeles foi fundado em 1967 e a NHL só começou a registrar os hits a partir da temporada de 1993-1994, e quando analisamos as temporadas posteriores até 2008-2009, o time dos Kings ocupava a 8ª posição geral com 6.641 hits. Isso é interessante porque vimos que nos últimos 11 anos o time teve mais de 26 mil hits, ou seja, de um total de mais de 33 mil hits, 80% de todo esse volume foi feito nos últimos 11 anos.
Decorrente disso, uma pergunta plana no contexto: será que esse jogo mais físico vem da própria franquia ou foi imposto por um técnico?
Relembrando que o próprio esporte é bastante físico como relatamos inicialmente. Até a temporada que estamos analisando, o time dos Kings teve ao total cinco técnicos, mas um deles se destacou. Seu nome é Darryl Sutter. Ele ficou no cargo de técnico de 2011 até 2017 e foi o grande responsável por tornar os Kings campeões da NHL nas temporadas de 2011-2012 e 2013-2014.
Segundo relatos no livro Bench Bosses: The NHL’s Coaching Elite do autor Matthew DiBiase, Sutter tende a montar suas equipes nos moldes de sua carreira como jogador: físico, agressivo e disposto a lutar. Portanto, muito mais que um estilo dos próprios Kings, acredito que Sutter foi o grande responsável por trazer essa cara ao time. Afinal, de 26 mil hits, ele é responsável por mais de 63% desse valor.
A verdade é que não podemos atribuir o sucesso dos Kings apenas nos baseando em uma única variável, afinal existem muitos outros fatores que influenciam no sucesso de um time. Entretanto, esse estilo de jogo era um diferencial e a falta do mesmo vem sendo sentida. Mas nem tudo está perdido. Apesar do rebuild durar mais do que os fãs gostariam, nos últimos anos o time vem acumulando boas escolhas no draft, reflexo do mau desempenho, e vem desenvolvendo bons prospectos para o futuro. Espera-se que o time volte a brigar por títulos a partir da temporada de 2024.
Como vimos, o time dos Kings já não é mais o mesmo em relação ao jogo físico, então antes de nos despedirmos, vamos ver os atuais:
Este texto é o primeiro de uma série de artigos que serão publicados por colaboradores na NHL Brasil. Você pode encontrar o Danilo Oliveira no Twitter.