Em outubro de 2019, Adam Johnson marcou seu primeiro gol na NHL pelo Pittsburgh Penguins. Foi também o seu único. O atacante “já” tinha 25 anos de idade e não teria muitas oportunidades na Liga. Mas sua carreira seguiu na American Hockey League e na Europa. Na temporada 2023-24, ele jogou pelo Nottingham Panthers, da Elite League britânica, onde, provavelmente, teria seu melhor desempenho. Infelizmente, sua trajetória foi encerrada de forma trágica e Johnson faleceu após um incidente no rinque.

Natural de Minnesota, Johnson se formou no hóquei acadêmico, como é comum a muitos atletas do estado. Jogou pelo Bluejackets, time da Hibbing High School, onde estudou. Posteriormente, após passagem por algumas equipes juvenis, o central foi jogador do Minnesota-Duluth Bulldogs, um dos times universitários mais queridos da região, pelo qual seu pai, Dave, e seu tio, Gary DeGrio, jogaram nos anos 80.

Johnson teve dois bons anos em Minnesota-Duluth. Em 2017, chegou ao Frozen Four e, encerrada a carreira universitária, ganhou uma oportunidade no training camp do Penguins. Acabou assinando com a organização, mas passou mais tempo no Wilkes-Barre/Scranton Penguins, filiado de Pittsburgh na AHL.

Em boa companhia: Johnson comemora com Kris Letang e Sidney Crosby. (Foto: AP/The Canadian Press/Keith Srakocic)

Apesar de números razoáveis na AHL, ele não teve muito espaço na NHL. Entre a temporada 2018-19 e 2019-20, disputou apenas 13 jogos. Foi o suficiente para marcar seu único gol e viver uma noite inesquecível. 

Na cultura do esporte, isso se chama “cup of coffee” — “tomar um cafezinho”, uma brincadeira sugerindo que sua passagem pela NHL foi tão curta que só deu tempo para descer um pingado enquanto batia um papo com a rapaziada.

Mas e daí? Não há demérito nenhum em ser um jogador de Ligas profissionais menores e há vida inteligente para além da NHL. Até porque o nosso torneio preferido tem vagas limitadas, é incapaz de absorver as centenas de jovens atletas que se formam todos os anos. Johnson não desistiu do esporte e seguiu nos rinques. Passou pelo Ontario Reign e pelo Lehigh Valley Phantoms, da AHL, onde oscilou em suas performances. Ora ia bem, ora nem tanto assim.

A Europa, por outro lado, parecia mais afeita ao jogo do rapaz. O Velho Continente não era estranho para Johnson, que já havia feito uma boa temporada pelo Malmö RedHawks, da Suécia, em 2021.

Johnson chegou a Nottingham como um grande reforço. (Foto: Panther Images)

De volta ao hóquei europeu em 2022, ele atuou um ano pelo Augsburger Panther, da competitiva Liga alemã, e assinou com o Nottingham, da Elite Ice Hockey League, para a temporada 2023-24. A Liga britânica costuma ser terreno fértil para norte-americanos.

No anúncio oficial da franquia, o técnico Jonathan Paredes fez elogios ao estilo de jogo de Johnson. “Ele é muito rápido e bastante ofensivo. Cria espaços para outros jogadores graças à sua velocidade”, disse, enfatizando sua boa visão de jogo.

Johnson, por sua vez, estava animado para sua temporada na Inglaterra. “Dá para ver que Nottingham é uma cidade que gosta de esportes”, comentou. “O clube quer um jogo mais rápido e ofensivo, é um estilo de hóquei muito divertido e estou muito animado.”

De fato, o atacante parecia ter se encaixado muito bem nos Panthers, com quatro gols e três assistências em sete jogos, números que o colocaram entre os líderes da Liga.

Infelizmente, o sonho do rapaz teve um fim prematuro na noite de sábado, 28 de outubro. Durante jogo com o rival Sheffield Steelers, em Sheffield, Johnson foi atingido por um adversário e a lâmina do patim acabou cortando seu pescoço. Maiores detalhes não serão dados neste texto. Ele foi socorrido e a partida foi encerrada. Horas depois, o óbito foi confirmado.

(Foto: Joe Sargent/NHL Images)

O mundo do hóquei ficou em choque com o acontecido, que repercutiu em todos os principais veículos de comunicação que cobrem o esporte desde a madrugada de domingo.

A casa de seus familiares, em Hibbing, amanheceu com muitas coroas de flores e homenagens de moradores locais, enquanto vários jogadores de hóquei, sobretudo amadores, fizeram o “sticks out” — uma tradição na qual, para demonstrar luto, jogadores, ao chegarem em casa, deixam o taco do lado de fora, junto à porta. Torcedores ingleses realizaram uma campanha de arrecadação em nome de sua família.

No Heritage Classic, jogado no domingo, um dia após o trágico incidente, a NHL realizou um minuto de silêncio em memória do jovem atleta. Nas demais partidas do domingo e da segunda-feira, as equipes prestaram seus tributos, inclusive o Pittsburgh Penguins, seu único time na Liga.

Na American Hockey Legue, Johnson foi declarado primeira estrela do jogo entre Ontario Reign, equipe que defendeu, e Abbotsford Canucks. Após vencer por 5 a 3, os jogadores do Reign retornaram ao gelo com uma camisa do colega e a colocaram sobre um banco.

Adam Johnson era um rapaz de 29 anos de idade que, segundo contou a uma rádio local nos tempos de Universidade de Minnesota-Duluth, gostava da série de TV The Blacklist e do músico francês DJ Snake, um dos autores do clássico “Turn Down For What.” Havia acabado de se tornar noivo de Ryan Wolfe. Ela estava na arena, presenciou a cena trágica e foi uma das pessoas a socorrê-lo. “Meu doce anjo”, declarou, emocionada.

Sua tia, Kari, disse que Adam era como um filho para ela. Contou que o sobrinho era generoso e tentava ajudar os amigos sempre que necessário.

Em nota, o Nottingham Panthers lamentou o falecimento de Johnson, descrito como “não apenas um grande jogador, mas também um grande colega e pessoa incrível com toda a vida pela frente.” A publicação o chama de “nosso número 47.”

Que a sua camisa seja aposentada e eternizada em Nottingham.

O Sheffield Wednesday, time de futebol da cidade onde Johnson faleceu, também prestou homenagem. (Foto: PA/BBC)
Imagem em destaque: AP/SkyNews