Quantas estrelas da NHL trocam de time em suas últimas temporadas, em um último suspiro para tentar conquistar a Stanley Cup? Deu certo para alguns, como Ray Bourque. Outros tantos, como Eric Lindros, Mats Sundin, Daniel Alfredsson, Saku Koivu ou Jarome Iginla, não tiveram a mesma sorte. No entanto, estão marcados na história. Enquanto isso, longe de qualquer estrelato, Curtis McElhinney teve o privilégio de sentar no banco do Tampa Bay Lightning em seus últimos anos de carreira. Estava no lugar certo, na hora exata. Ele “anunciou” sua aposentadoria em 25 de setembro, com dois anéis de campeão nos dedos.

Natural de London, Ontário, um dos maiores celeiros de talentos da liga, McElhinney se destacou como goleiro no hóquei universitário, defendendo as cores do Colorado College Tigers. Foi draftado pelo Calgary Flames em 2002, na 176ª escolha geral, mas seguiu na faculdade até se formar.

Em 2005, McElhinney estreou profissionalmente, pelo Omaha Ak-Sar-Ben Knights, então filiado aos Flames na American Hockey League, e em 2007 atuou pela primeira vez na NHL, substituindo o lendário goleiro de Calgary Miikka Kiprusoff durante um jogo.

Daí para frente, a carreira de McElhinney foi protocolar. Poucas atuações como titular, sete times no currículo e longas passagens pela AHL. Padecia do complexo de “eterno reserva”, a ponto de começar uma partida de playoff apenas em 2019, aos 35 anos de idade, tornando-se o goleiro mais velho a alcançar o feito — não é por acaso que o lendário Vladislav Tretiak dizia que não existe posição mais nobre nos esportes.

A imagem de campeão mais legal da história (Foto: Reprodução/Instagram: @mcelhinney_c30)

Mas como o sol é para todos, a oportunidade enfim surgiu para McElhinney. Calhou que o Tampa Bay Lightning tinha um ótimo goleiro titular e precisava de um substituto baratinho e com números que inspirassem um mínimo de confiança. Assim, fecharam com McElhinney.

Em seu primeiro ano na Flórida foram 18 jogos, oito vitórias, sete derrotas e três derrotas na prorrogação, com porcentagem de defesas de 90,6%. Sentou no banco durante todos os playoffs e, de camarote, assistiu aos colegas lhe conquistarem a primeira Copa. No ano seguinte, mais 12 jogos, quatro vitórias, seis derrotas e duas derrotas na prorrogação. A porcentagem de defesas caiu para 87,5%, mas o sucesso se repetiu: bicampeão, mais uma vez sem pisar no gelo.

Mas e daí? Como disse Brian Scalabrine, o que fica para a posteridade é o registro oficial. Afinal, não se joga hóquei sem goleiro e a posição de titular é um dos empregos mais raros do mundo, são apenas 32 deles anualmente, enquanto o número de reservas pode chegar aos três dígitos fácil, fácil.

No total, McElhinney somou 249 jogos em temporada regular, com 94 vitórias, 95 derrotas e 20 derrotas na prorrogação, porcentagem de defesas de 90,7%. Em playoffs? Sete partidas, três vitórias e três derrotas, porcentagem de defesas de 92,1% e 350 minutos jogados!

Com a missão cumprida, chegou o momento de pendurar os patins. E tão discreta quanto sua carreira foi o “anúncio” de sua aposentadoria: Curtis McElhinney apenas trocou sua short bio em sua conta pessoal no Instagram para “atleta profissional aposentado.” Deixou o rinque quase da mesma forma que entrou, na humildade, em silêncio. Mas tem dois campeonatos e alguma história para contar. Lenda!