A NHL é uma liga com uma longa e profunda história. Através das décadas, o que não faltaram foram grandes ídolos, jogadores lendários que são lembrados e celebrados até os dias de hoje. O nosso novo quadro não visa fazer uma extensa biografia sobre tais jogadores, mas sim falar um pouquinho de como foram suas carreiras e suas vidas após a aposentadoria dos gelos e como viveram (ou ainda vivem) seus dias, com um pequeno foco nesta segunda parte, uma vez que pouco se sabe de forma geral como grandes legas seguiram tocando suas vidas.

Recentemente, enquanto escrevia mais um artigo da nossa série de rivalidades, me deparei com a icônica figura de Jean Béliveau.

Béliveau impressionou a todos desde os seus 15 anos de idade, se destacando nas ligas locais por onde passou. Aos 18 anos, juntou-se ao Quebec Citadelles, onde atuou por duas temporadas, tendo grande desempenho. Ainda durante sua temporada na liga de Juniores, atuou em duas partidas pelo Montreal Canadiens em 1950, surpreendendo a todos e chamando a atenção do GM Frank Selke. Béliveau no entanto ainda não queria virar profissional e retornou a liga de Juniores, dessa vez pelo Quebec Aces.

Finalmente em 1953, em uma manobra surpreendente, os Canadiens compraram TODA A LIGA de Juniores onde atuava o jogador e a transformou em profissional, tendo logo em seguida convocando Béliveau em definitivo para a equipe Canadense. Então, ao início da temporada 1953-1954, o jogador assinou um contrato recorde para a época: 105 mil dólares, por 5 temporadas (O equivalente a mais de 1 milhão de dólares hoje).

Assim começou a grande história da Jean Béliveau com o Montreal Canadiens. Foram 18 temporadas como jogador da equipe, onde o central construiu sua vitoriosa carreira. Em 1961 se tornou capitão da franquia, onde carregou o C na camisa até sua aposentadoria em 1971, temporada esta em que liderou sua equipe ao épico título, após derrubar o poderoso e favorito Boston Bruins no primeiro round daquele ano. Jean é considerado um dos maiores centrais de todos os tempos, incrivelmente completo para sua época e dono de um porte físico incomum, o que o tornava um adversário temido por todos, além de um grande líder. Ao fim de sua carreira, Béliveau possuía os seguintes stats:

– 1125 jogos
– 507 gols
– 712 assistências
– 10x Stanley Cups
– 2x Hart Memorial Trophy (MVP)
– 1 Art Ross Trophy (Maior pontuador)
– 1 Conn Smythe Trophy (MVP dos Playoffs)

MAS E APÓS SUA CARREIRA?!

Ao se aposentar em 1971, Jean criou a “Fundação Jean Béliveau”, visando ajudar crianças carentes. Jean ficou conhecido por simplesmente aparecer em todos os eventos possíveis quando era convidado, especialmente se envolvessem crianças ou jovens. Quando os Canadiens realizaram uma noite em sua homenagem, ele insistiu que todo o lucro da noite fosse destinado à caridade.

De 1981 à 1995, Béliveau fez parte do comitê de seleção para o Hall da Fama do Hóquei e do comitê de várias outras empresas, inclusive empresas da Família Molson, atual dona do Montreal Canadiens. Também foi presidente da Jean Béliveau, Inc, um conglomerado de empresas bem sucedidas.

Béliveau também trabalhou como executivo de relações públicas para os Canadiens e durante este período a equipe conquistou mais 7 títulos, tornando Béliveau o indivíduo com o maior número de títulos, 17 no total.

Béliveau trabalhou oficialmente com os Canadiens até 1993, quando se aposentou no cargo de de vice presidente de Assuntos Corporativos. Ainda em 1993, o primeiro-ministro canadense a época ofereceu uma vaga no Senado para Béliveau e no ano seguinte, a posição de Governador Geral do Canadá, cargo apontado pelo primeiro ministro, com o aval da Rainha da Elizabeth da Inglaterra, para executar a maior parte de suas tarefas constitucionais e cerimoniais, cargo que foi rejeitado pelo ex jogador, para se dedicar a sua filha, que havia ficado viúva alguns anos antes e suas netas. Em entrevista, Béliveau afirmou que a época, acreditava ser seu dever se tornar o pai que suas netas precisavam naquele momento e que se mudar pra Ottawa com sua esposa, seria abandonar sua família.

Durante os anos 90, a lenda canadense passou por diversos problemas de saúde, se recuperando de todos. Já em 2000, passou por um tratamento para um câncer de garganta, do qual se recuperou totalmente. Em 2010 e 2012 Béliveau sofreu dois derrames, dos quais também se recuperou. Infelizmente, sua saúde seguiu sensível e após batalhar uma pneumonia por alguns meses, Béliveau veio a falecer no dia 2 de dezembro de 2014, aos 83 anos de idade.

Milhares de fãs se reuniram em frente a catedral onde acontecia o velório do ex jogador. Família, ex colegas de time e amigos compareceram para se despedir de um dos maiores nomes que o esporte já viu.

Ainda nos dias atuais, sua esposa Élise Béliveau, que é carinhosamente chamada de “A Primeira Dama dos Canadiens” é uma figura constante nos jogos da equipe, onde está sempre conversando com fãs, funcionários do clube e compartilhando histórias sobre Jean. Élise e Jean foram casados por mais de 60 anos, até o falecimento de Jean. A Primeira Dama tem seu assento marcadinho e sempre alguns minutinhos antes do faceoff inicial, é possível vê-la chegando para assistir as partidas.